Quão precioso é um melhor amigo

Brucinho está morto. No meu primeiro texto aqui falei o quanto ele andava mal. Que tipo de doença é essa que destrói os rins a ponto de eles não voltarem …




Coluna do Paulo Rossi

Brucinho está morto. No meu primeiro texto aqui falei o quanto ele andava mal. Que tipo de doença é essa que destrói os rins a ponto de eles não voltarem ao normal nunca mais e definharem um cãozinho? Não sei, mas escolhemos não ver nosso amado companheiro morrer sofrendo e penando.

Brucinho tinha apenas quatro anos. Viveu comigo boa parte da atual fase da minha vida que se iniciou em 2013. E como tem chegado ao fim essa parte da minha trajetória, esperava tê-lo em momentos futuros novos.

Brucinho latia muito. Hoje, o silencio denuncia apenas a sua ausência. Lembro do seu cheirinho. Do seu jeitinho dengoso e agoniado. Eu sempre chegava tarde da Universidade e não o via porque estava cansado demais e sempre haveria o outro dia para vê-lo e abraçá-lo – e como eu amava aquele abraço sincero! -. Hoje ao chegar da UFCA fui até o quarto onde ele dormia. Cheirei o lençolzinho dele. E o banhei em lágrimas.

Que coisa estranha é a morte! Lembra sempre a gente do quão raro somos, seres humanos ou bichinhos de quatro patas, quão frágil é nossa existência, quão impiedoso é o tempo, senhor do destino. É claro que enquanto passo pelo massacre do dia-a-dia não posso permitir-me sentir tantas e tantas vezes. E chorando lá fui eu para a UFCA fazer trabalho, enquanto meu cachorrinho era levado à clínica para seus últimos suspiros. O tempo não perdoa. Não há tempo.

Não há sentimento pior do que o de impotência. Não há sentimento pior do que o desespero e o arrependimento. E não há sentimento nenhum pior do que o vazio. Mas o vazio também revela o que resta. E hoje restam saudades.

Brucinho morreu. Parte de mim morreu. O passado está morto agora mesmo enquanto esse texto é escrito. E o presente se desfaz ao passar dos segundos. Que venha o futuro. Que venha o que vier. Mas que fique. Que fique o quanto se foi amado, o quanto se foi importante e o quanto se é. Porque nunca deixa de ser.

Hoje eu tenho percebido para além da dor do vazio o amor que eu senti por Brucinho. O quanto aprendi com aquele rabinho por entre as pernas. Muitas foram as noites aos prantos desabafando enquanto aqueles olhinhos observavam atentos – nem tanto assim às vezes -. Tão importante é a memória, que impulsiona o presente e faz do futuro possibilidade usando o passado como combustível.

É possível perceber, por um lado, então: Brucinho está vivo. Quão precioso é um melhor amigo: atravessa o tempo, corta em mil pedaços a dor e permanece. Feito um verbo de ligação. Futuro, passado e presente se ligam: amar é eterno.