Escrevo porque preciso

A estreia da gente tem que vir com direito pelo menos a uma musiquinha, né? Dá o play e vem comigo! Meia-noite e meia. Enquanto meus pais viajam e meu cachorro permanece internado numa clínica fraco e com fastio, me debruço sobre o notebook ouvindo a roda de violão na festa da casa em frente …




Coluna do Paulo Rossi

A estreia da gente tem que vir com direito pelo menos a uma musiquinha, né? Dá o play e vem comigo!

Meia-noite e meia. Enquanto meus pais viajam e meu cachorro permanece internado numa clínica fraco e com fastio, me debruço sobre o notebook ouvindo a roda de violão na festa da casa em frente sob versos conhecidos de Fagner, Zé Ramalho e outros. Há quinze dias recebi o convite do Foobá! para ser colunista fixo do site. De lá para cá ando pensando em como iniciar, em como me apresentar, falar de mim, falar desse espaço, falar da vida.

Meu nome é Paulo, caso não me conheça – caso conheça, é Paulo também -. Meu ano de 2019 tem sido um sonho realizado após o outro – estar aqui inclusive faz parte disso. Depois de muito tempo jogando a culpa dos meus fracassos nos outros e procurando meios para justificar meus erros, sempre transferindo a culpa aos outros, decidi mudar. Tentar, ao menos. Tenho pedido perdão. Tenho agradecido. Tenho percebido o quanto, em seis meses, esses dois passos e as pessoas que estão ao meu redor me trazendo amor, acolhimento, “cagaços” e sentido de vida têm me trazido coisas incríveis. Mas não é sobre isso que quero falar agora, essas são apenas cenas dos próximos capítulos. Enquanto pensava nas últimas semanas em como iniciar essa coluna, a verdade é que andei refletindo muito sobre a vida.

Veja bem, não há nada demais em ser um pouco existencialista: acabo de chegar em casa depois de sair com minha amiga Gabriela após a aula e seminário de Antropologia. Comemos crepe e chocolate. Tomamos uma água com gás. No caminho, Marina & the DiamondsElectra Heart, segundo disco da carreira -, muito vento batendo no rosto e bagunçando o cabelo solto, um sentimento de amor, de gratidão, de pertencimento sem pertencer, de liberdade. Nada está bem, mas tudo está bem porque há sempre a possibilidade de mudar. “Onde há poder há resistência”, olá Foucault. Havia na minha cabeça enquanto eu dirigia apenas a certeza: agora tenho um texto especial para dar início a minha coluna no Foobá!. Um texto sobre a vida, sobre os inícios, os fins, os meios. Nada muito certo ou explicado porque, afinal de contas, assim é a vida: cheia.

Tenho pensado muito sobre porque escrevo. Tenho pensado sobre o que me motiva. Cursei durante quatro anos Música na UFCA. Aprendi muito, principalmente sobre o mundo, mas não era suficiente. Escolhi fazer Jornalismo porque sentia que poderia ser mais bem-sucedido. Cá estou: envolvido em vários projetos, fazendo vários trabalhos que amo e começando a ser colunista num lugar que respeito. Não sei o que me move, mas acredito numa busca que me leva a querer colocar a cara no sol, uma busca que me põe numa estrada para Barbalha na madrugada de uma segunda só para ver os amigos que amo, uma busca que me faz ter estado pouco em casa, pesquisar, andar, pular, gritar no meio da rua quando achar que preciso. Uma busca que me faz querer, cada vez mais, escrever. Compartilhar.

Penso que somos uma geração deslocada no tempo-espaço. Penso que somos capazes de coisas incríveis, de chegar a lugares novos antes impossíveis, mas que por algum motivo andamos desanimados. Estamos enfadados, estamos cansados e sem projeções? Penso que enquanto escrevo isso, por outro lado, há milhares de pessoas fazendo trabalhos maravilhosos, lutando em selvas de pedra, lutando por suas vidas, tentando fazer algo de bom, procurando motivos para viver. E penso na vastidão que são as possibilidades.

Acredito naqueles que estão de alguma maneira mudando suas realidades. Mudando a realidade de outras pessoas de uma forma positiva. Que inspiram. Que brilham. Que lutam. As guerreiras é que me motivam. Que Deus me dê sabedoria suficiente para que eu esteja aqui sempre que preciso. Que o Universo me proporcione sensações únicas como as que tenho sentido. Que eu consiga descrevê-las, transmiti-las a quem estiver interessado em fazer parte dessa jornada coletiva.

Penso que cada pessoa tem a sua forma de expressar. E tem a sua forma de ser no mundo e de fazer diferença. Penso que talvez a minha forma não seja cantando ou tocando como um dia acreditei durante o curso de Música. Talvez não seja sendo um filho da puta com pessoas que amo ou achando que o mundo me persegue. Talvez fosse neste momento. Talvez tudo tenha me trazido ao lugar certo na hora certa. Os erros foram aprendizados importantes, os acertos vitórias que somaram. Estou feliz. Estou pleno. Quero que você esteja também. E tenho reencontrado cada vez mais um Rossi Neto de oito anos que sonhava em mudar o mundo. Hoje, sei como. Não sei se mudo, mas sei que posso tentar. Que posso fazer a minha parte. Eu quero que esse espaço de coluna do Paulo Rossi seja livre para você sugerir pautas. Nós vamos falar sobre cinema, sobre música, viagens, amor, ódio, nós vamos rir juntos e nós vamos bolar um jeito de contemplar as possibilidades e abraçar as dúvidas enquanto sujeitas capazes de transformar. Vamos escrever crônicas – meu Deus, eu sou um jornalista ou um poeta? Mas um pouco dessas duas “coisas” e de doido, afinal, não temos todos? -. Nós vamos conversar sobre o que ‘der na telha’. Eu e você temos um espaço. Um encontro. Uma possibilidade. E em tempos como os que vivemos, ainda me pego pensando no quão importante é expressar. Ainda me pego pensando no quão importante é a sinceridade quando utilizada para algo bom. Há valor. Há preciosidade no afeto. Então penso: descobri meu primeiro texto sim, definitivamente. Descobri, enfim, que escrevo! E porque escrevo.

Escrevo porque desejo perpetuar-me. Para além das linhas, para além do papel, do texto, dos smartphones. Escrevo porque desejo ser sábio, jamais inteligente, porque desejo crescer, porque desejo ter as perguntas anotadas na mão, jamais as respostas. Escrevo porque abraço o infinito que somos nós, porque tenho esperado pacientemente o momento certo. Escrevo porque não sou mais um único Paulo. Sou vários. Todos nós somos muitos. Escrevo porque sou Júlias, Carois, Karlas, Laras, Thamyress(?) Jackies, Mônicas, Marianas, Saulos, Eduardos, Celestinos, Ricardos, Brenos, Julianas, Jaynes, Annas, Havis, ​Gabrielas, Luises, Ivenses – como se escreve o plural desse nome, porra? -, Natálias, Manoeis, Thiagos, Déboras, Wesleys, Hiagors(?), Renees, Luannas, Letícias, Adlers(?), Guilhermes, Julitas, Brendas, Bias, Bárbaras, Felipes, Josés, Alans, Matheuses(?), Marias, Joões, Andersons(?), Alexias, Jamilass(?), Fabrícios, Lucass(?), Denness(?), Elanes, Ivanss(?), Diógeness(?), Márcias, Dalilas – caros amigos que não tiverem seus nomes colocados aqui: amo vocês, me perdoem, não dá para pôr todos rsrsrs -, sou um depósito onde cada um coloca um pouco de si, me doa algo em troca de algo que doo. Escrevo porque minha alma pede um pouco de paz, porque já não é mais suficiente viver tudo intensamente tão só. São novos tempos: é preciso compartilhar, é preciso pedir perdão, é preciso agradecer. Escrevo porque agradeço. Escrevo porque sonho. Escrevo porque ainda acredito. Escrevo porque desejo ser e porque sou. Porque fui. Escrevo porque me inspiro, porque vivo, respiro. Escrevo porque preciso. Convido você a vir comigo também.